Viajar sempre foi algo que me chamou muito a atenção, desde de muito pequeno me admirava entrar dentro daqueles grandes ônibus de viagem e sentir a sensação de que uma nova aventura estava prestes a começar, ir para cidades distantes visitar meus parente nunca foi tão empolgante, se sentar naquela poltrona que parecia ser feita de algodão e sentir o cheiro de ônibus novo me deixava ansioso para que a viagem começasse logo. A parada para fazer um lanche no meio do percurso era um dos pontos autos da noite fria de novembro, geralmente o ar condicionado do ônibus me fazia perder a real noção do quanto estava frio lá fora, me agasalhar quando fazíamos uma parada era inevitável.
Estar sempre bem alimentado durante o trajeto era prioridade para mim, afinal quem poderia aproveitar uma boa viagem se estivesse de barriga vazia? Sempre procurava me precaver durante a viagem levando ao lado do meu assento um lanche bem farto e algumas bebidas (refrigerante, iogurte, suco e etc..) nunca me arrependia quando sobravam guloseimas ao fim da viagem. Ler sempre foi um pequeno obstáculo na minha vida, nunca fui muito incentivado a praticar uma boa leitura e acredito que deixar essa tarefa ser dada pela escola não foi uma das melhores decisões de minha adorável mãe, por que nem ao meu pior inimigo desejaria a entediante leitura de Dom Casmurro aos 15 anos. Ao longo dos anos venho tentando adquirir alguns hábitos que no meu entendimento foram privados a minha pessoa. Acredito que a essa altura já tenha ficado claro de que eu não dormia um segundo sequer durante a viagem, e já que livros não eram nem de perto minhas opções favoritas, eu apreciava a bela imensidão escura que havia do outro lado da janela daquele ônibus. Passar horas e horas acordado quando se tem 15 anos não é uma missão fácil, porem eu tirava de letra, não me importava em ficar 8 horas seguidas de olhos pregados nas luzes dos postes que iluminavam as ruas das pequenas cidades que atravessamos pelo caminho desde a partida até o meu destino final. Ficava fascinado observando que mistérios poderiam esconder aquelas casas em meio ao nada que as vezes nos deparamos na beira da estrada. Para mim era assustadoramente inconcebível a ideia de alguém morar em local tão isolado e ainda assim não se assustar noite após noite com todo aquele matagal alto, arvores pavorosas e um mínimo de iluminação que permitia se enxergar apenas alguns palmos a frente do próprio nariz. Certa vez um universitário daqueles bem franzinos com barba por fazer e óculos que pareciam ter sidos tirados de um filme antigo sentou no banco adjacente ao meu e eu podia ouvi-lo durante a noite resmungar algo sobre seu último trabalho da faculdade, aquilo parecia o incomodar muito pois o jovem a todo instante falava palavras de baixo calão para se referir a um determinado homem, dizia ele: "Fernando *#$*& poderia ter deixado esse trabalho para o mês que vem, mas ele insiste em me perseguir assim não dá!". Nunca descobri quem era o tal Fernando, mas acho que o coitado deveria ter feito algo terrível para aquele rapaz porque ele parecia realmente estar transtornado. A chegada no destino final sempre era uma dura despedida pois no exato momento que colocava o pé para fora daquela imensa caixa de metal com rodas eu sentia um certo ar de tristeza, mas logo me recuperava e fixava na minha mente que dali alguns dias eu estaria novamente me reencontrando com a verdadeira alegria da minha viagem que era ficar horas ali sentado olhando por uma janela imaginando um mundo de possibilidades a cada nova paisagem.
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AutorThiago Pereira colunista do jornal leste do vale de Pitanga. Curte viagens e fotografar todos os melhores ângulos da natureza, enquanto viaja por toda costa oeste. HistóricoCategorias |